O ambiente econômico atual é mais dinâmico e, por conseqüência, mais complexo. Inovações tecnológicas disruptivas incomodam modelos de negócios antes inabaláveis. Um mercado cada vez mais competitivo e exigente tem levado empresas a se adaptarem, a se reinventarem, e quando não, a se transformarem.

Nesse intenso movimento de mudanças, o processo de gestão empresarial passa por novos desafios e os gestores passam a trabalhar com novos modelos de decisão. Um grande volume de métodos, técnicas, abordagens e preocupações desafia a capacidade dos gestores no que diz respeito ao entendimento dessas questões, ao discernimento do que é ou não relevante, e principalmente, a como implementar as mudanças necessárias e obter resultados concretos. Muito mais do que fórmulas mágicas para resolver problemas, as empresas necessitam de uma abordagem “holística” para fazer face aos seus desafios, devendo implementar metodologias adequadas a seus ambientes.

Nesse sentido, é mais do que nunca fundamental a aplicação de um “modelo de gestão” eficaz, regido por um conjunto de normas, princípios e conceitos que têm por finalidade orientar o “processo de gestão”, que deve endossar as decisões tomadas na organização, as quais serão suportadas e orientadas por um “sistema de informações”. Sob um olhar mais prático, para um melhor entendimento, toda estratégia, quando disseminada na organização, requer conceitos, estudos, planejamento, mudanças, ações e, com isso, tomadas de decisão por parte dos gestores e acionistas, que somente a farão (ou ao menos deveriam fazer) munidos de informações ótimas. Todo o sincronismo e interação desse conjunto asseguram a eficácia dos gestores e, conseqüentemente, da empresa.

A Controladoria, de forma estratégica, deve estar inserida nesse ecossistema. Ela não se remete ou se limita à uma área fiscalizadora e de controle. Em seus vários estágios de evolução, a controladoria é tida para: contar, registrar, informar, controlar e, mais recentemente, otimizar. Hoje, mais do que nunca, ela passa a exercer um papel único e essencial, muito maior e mais presente no dia-a-dia das empresas. À vista disso, a controladoria, em sua conjuntura, carrega como missão assegurar os instrumentos que deem condições para a otimização do lucro e criação de valor. De que forma?

Pode-se dizer que a controladoria se divide em duas frentes: primeira como detentora de conhecimento, englobando conceitos contábeis, fiscais, financeiros, econômicos e psicológicos; e segundo como área administrativa, respondendo pelo desenvolvimento e disseminação dos conceitos, modelagem e implantação de sistemas de informações, que suportarão o processo de gestão e tomada de decisão. Desta forma, a controladoria, como “ente” interno, vai além do que apenas uma área de apoio, ela deve ter uma atuação proativa, com uma visão holística da empresa. A controladoria assim desempenha um papel fundamental de inter-relacionamento com os diversos membros e áreas da empresa. Para um entendimento mais claro de como a controladoria se relaciona, temos a figura abaixo.

Sistema de Informação: conjunto de informações desenvolvido para suportar operações às funções de gerenciamento, análises e tomadas de decisão na empresa. Exemplos: estudos e análises econômicas, orçamentos, indicadores, apuração e avaliação de resultados, relatórios departamentais, projeções de cenários, etc.

Se considerarmos que uma empresa é um conjunto de partes coordenadas (áreas, setores e divisões) para realizar um conjunto de finalidades (metas e tarefas), nasce então o processo de gestão estruturado, que analiticamente corresponde às fases de planejamento, execução e controle. Surge então, a demanda por uma sucessão de tomadas de decisão, com respeito aos diversos eventos, como comprar, estocar, produzir, vender, aplicar, captar, etc. Para tanto, devem estar disponíveis informações gerenciais que permitam a simulação e escolha da melhor alternativa. Como filosofia de atuação, a controladoria vem subsidiar o processo de gestão, desde sua estruturação à execução, por meio do conjunto de informações necessárias para a tomada de decisão e, também, a conduzir e induzir gestores e acionistas à melhora das decisões. O gráfico abaixo nos dá um entendimento claro do posicionamento “estratégico” da controladoria na busca pela otimização do lucro e criação de valor.

As organizações empresariais são heterogêneas quanto ao tamanho, à complexidade, à definição das áreas de responsabilidade, entre outras características. O fato é que as companhias brasileiras e estrangeiras, desde startups a grandes conglomerados, possuem um modelo de gestão onde são definidas as características para a gestão da empresa, que por sua vez, se dará pelo processo de gestão formando ciclos operacionais e gerenciais, tais como planejar, executar, medir, controlar, corrigir e ajustar, buscando assim a eficiência operacional das áreas para alcançar o melhor resultado da empresa. Conforme o gráfico acima, a controladoria, na sua essência, como detentora dos conceitos e das informações gerenciais, tem por excelência a capacidade de promover as diversas etapas da estratégia da empresa, buscando integração e sinergia para o objetivo final: otimização do lucro e criação de valor.

Um exemplo prático e clássico, que podemos trazer para esse entendimento, é o instrumento muito utilizado e conhecido pela maioria das empresas, conduzido pela controladoria, o orçamento anual. Após um longo trabalho de planejamento com os gestores e as áreas da empresa, a controladoria, mensalmente, fará seu acompanhamento, controle, ajustes e correções necessárias, em conjunto com os gestores, para atingir a eficiência de cada área, buscando o melhor resultado para a empresa. Veja que, a tomada de decisão cabe ao gestor da área, porém, induzidos e suportados pelas melhores informações providas pela controladoria. O sucesso está no processo de gestão, na integração e na sinergia que uma boa controladoria pode promover.

Tomadas de decisão por “feeling”, como se diz, não funcionam mais. Empresas que não tiverem, ou não seguirem, um embasamento conceitual econômico financeiro de rentabilidade nas operações, e esse claro conceito disseminado na cultura da organização, não se sustentarão. Por isso, é fundamental o reconhecimento de uma controladoria e, mais ainda, o reconhecimento da sua atuação estratégica. Diversas pesquisas e estudos já abordaram a questão da controladoria inserida nas empresas, como elas se configuram ou estão estruturadas. Isso muitas vezes é dinâmico, ao passo que as empresas se expandem ou desenvolvem novas estratégias. O importante a ser considerado é que a controladoria deve estar configurada para atender totalmente as necessidades da organização junto à gestão e sua estratégia, o que se inclui também a competência das pessoas que a compõe. A controladoria atua como “espinha dorsal” da companhia, interagindo e induzindo com instrumentos e informações as diversas áreas operacionais junto ao processo de gestão e tomada de decisão.

A continuidade de uma empresa, assim como o desenvolvimento e crescimento sustentável do negócio, está intrinsecamente ligada à visão e atuação estratégica do modelo de controladoria aqui destacado. Da mesma forma, a controladoria somente terá sua plena eficácia se atuante num modelo de gestão voltado à otimização de resultados por meio da melhoria da produtividade e de eficiência operacionais. Esse conjunto de princípios, orientados e dirigidos em prol do mesmo propósito, será a base para a otimização do lucro e criação de valor da empresa.

Este artigo foi escrito originalmente para uma iniciativa da B3 Bolsa de Valores, veja o artigo original aqui.